Novo drive de Poesia Brasileira Contemporânea

De uns tempos pra cá, o drive de poesia brasileira contemporânea vem crescendo. Hoje já temos mais de 200 livros, abrangendo uma parcela significativa da escrita de norte a sul do país!

Estamos, Marcelo Reis de Mello e eu, pensando maneiras de deixá-lo mais acessível, além de estarmos querendo trazer mais e mais bons livros, ampliando a proposta inicial. A ideia futura é fazer um site para facilitar as buscas e ampliar a difusão das obras.

A pasta que compartilho compreende livros de 2010 a 2019. No entanto, já começamos a organizar livros de décadas anteriores, assim também como começaremos a colecionar os livros a partir do presente ano.

Então, duas coisas:

1) Compartilhem o novo link (o antigo já está inativo), que é o que está nessa postagem. Assim, pessoas que consultam o Drive poderão manter o acesso e pessoas que ainda não conhecem poderão usufruir desses tantos livros.

2) Caso você tenha algum livro de poesia contemporânea (dos anos 80, por enquanto, até hoje) que não esteja no Drive, entre em contato com a gente pelo email: arquivodepoesia@gmail.com

Agradecemos a divulgação dessa iniciativa e o apoio de sempre.

Leiam livros e, se possível, comprem livros de editoras e livrarias independentes.

 

O link é: https://drive.google.com/drive/folders/1X4i9WEq5qoMNRhNkR4ihLAWIpA_j1UwC?usp=sharing

Poemas em italiano na Revista Minerva

Link para a revista: http://www.minervaonline.it/2018/11/13/thiago-ponce-de-moraes/

Há algumas semanas, foi publicada na Revista Minerva uma seleta da minha poesia em italiano, sob curadoria da poeta Zingonia Zingone, em tradução da poeta Francesca Cricelli.

 
Por algum problema de logaritmo do Facebook, a publicação vem sendo bloqueada reiteradamente – sendo impossível até mesmo enviá-la pelo Messenger. Hoje tive a ideia de publicá-la a partir de um link no meu blog. Assim, creio que driblo o logaritmo e coloco à disposição esse trabalho feito a várias mãos.
 
O texto da Zingonia Zingone começa assim:
 
Il giovane poeta brasiliano Thiago Ponce de Moraes ha la capacità di sorprende il lettore non solo per il suo sguardo profondo e intenso, ma per gli inaspettati giri che prende la sua voce poetica che come una spirale va salendo e sfiorando diverse forme di linguaggio.
 
E um dos poemas traduzidos pela Francesca Cricelli, um dos quatro inéditos da seleção e que fará parte do meu próximo livro, Celacanto:
 
NELLO SPEGNERSI DEL GIORNO
 
barche sull’imprevedibilità delle onde
l’orizzonte appena curvo
in lontananza
le tue spalle pronte a partire

44023300_2109220732433868_2318598147254779904_n

Foto de Caligari Escobar Garcia

Comentário sobre dois livros de poesia brasileira contemporânea

Tenho tido a sorte e a alegria de ser convidado a ler livros de poesia no prelo – ainda por serem lançados. Tenho lido muitos trabalhos mesmo: muita coisa potente, estabelecendo relações absolutamente distintas com a palavra: por isso, também, com a imagem, com o som e com o sentido. Com a vida.

Quero, no entanto, citar dois trabalhos em particular e fazer comentários breves de leitor entusiasmado (logo, sem grandes elaborações críticas – que seriam, aliás, de toda forma, um tanto inócuas nesse meio). Dois trabalhos que tocam no escuro fundo das palavras, que desautomatizam de modo muito singular a leitura e, portanto, a escrita dessa leitura na memória, assim como as formas gestuais da mão para a escrita. E dizer, é claro: leiam.

Há alguns meses, li o livro da Mariayne Nana, posteriormente selecionado no edital da Editora Urutau e recém-publicado aqui no Rio: trata-se do livro “Pétala soletrada pelo vento”. É o livro de estreia da Mariayne, que mostra já desde essa primeira incursão na poesia uma extrema perícia com o verso, além de uma refinada sensibilidade imagética e sonora. Sua poesia é plena de graça, embora não haja quaisquer gracejos – nada sobra, nada é gratuito. Sua sintaxe rarefeita demanda ao leitor fôlego e cadência na respiração. Além disso, todo poema opera na chave da sensualidade da nossa língua – um ritmo próprio que dita o interdito do corpo, do toque. É um livro muito bonito e delicado no sentido potente dos termos.

O outro livro é o novo trabalho do Carlos Orfeu: “Nervura”. Não sei ainda por que editora sai ou quando, mas fiquem atentos. Fiz a primeira leitura hoje para escrever a orelha e posso dizer que fiquei perplexo em vários momentos. O livro é absolutamente coeso, todos os poemas dialogam e expandem ou retraem os sentidos e os destinos que podem legar à leitura. Dividido em duas partes, “da carne” e “do osso”, o conjunto de poemas explora incessantemente o corpo, a pele, os gestos, as relações. O corte do verso de Orfeu é sempre preciso, muito exato e justo. Há uma dinâmica de ferida-cicatriz que também se estabelece ao longo dos poemas (pretendo voltar a isso numa segunda travessia). Sempre estamos no precipício da leitura, na verticalidade do querer-dizer nada que cada poema desse livro diz.

Fico muitíssimo feliz de poder acompanhar esses e tantos outros trabalhos de perto, de poder dialogar com esses poetas-amigos que admiro e que certamente ainda vão nos oferecer muitos outros trabalhos em poesia. Vida longa à poesia brasileira contemporânea, aos seus poetas, às nossas letras. Seguimos juntos!

Drive Pirata de Poesia Brasileira Contemporânea

Acesso aos livros: Drive Pirata de Poesia Brasileira Contemporânea

Há alguns meses, o Marcelo Reis de Mello, poeta-editor curitibano radicado no Rio de Janeiro, começou a reunir livros de poesia brasileira contemporânea para uma oficina de escrita UERJ. Para facilitar a vida dos participantes, os livros foram sendo disponibilizados em um Drive. A ideia se expandiu e a vontade de fazer a poesia circular para além do livro físico também. Foi nesse momento que comecei a integrar o projeto do Drive Pirata.

Nossa intenção é a de que livros editados por pequenas/médias editoras (ou até mesmo nas grandes) que são publicados nas mais diversas cidades do Brasil possam encontrar nesse projeto novo fôlego para circulação. Dessa forma, livros que transitam de modo mais restrito em algum nicho poderão encontrar novos leitores em outras paragens.

Sabemos que as tiragens de poesia são, em geral, mínimas (100/200 exemplares) e que o livro muitas vezes acaba tendo circulação restrita. Acreditamos que esse projeto possa ser uma ofensiva à indiferença das livrarias em geral no que concerne à poesia contemporânea. Com os livros disponíveis na rede, esperamos ampliar o alcance das tantas poéticas que vêm sendo gestadas nos últimos anos.

Pretendemos com isso também fomentar o interesse pela poesia brasileira contemporânea e, consequentemente, um aumento na distribuição/compra dos livros físicos. A maior parte dos livros está sendo enviada pelos próprios autores e até por editoras. Outros já estavam disponíveis aqui e ali na internet, apenas agregamos. Outros, ainda, temos escaneado. Caso a editora ou o autor solicite, nós retiramos o conteúdo. Mas, até o momento, todo mundo que tomou contato com a iniciativa está apoiando. Queremos expandir muito mais ainda.

Ajude a fazer circular esse Drive Pirata!

Revista Theodora – Theodora Magazine

A poeta, tradutora e editora Virna Teixeira lançou recentemente seu novo empreendimento literário: trata-se da revista literária e de artes visuais bilíngue Theodora, com foco em identidades, sexualidades, diversidades.

O projeto editorial está lindo e as colaborações são de altíssimo nível. Há poemas de Horácio Costa, Patti Smith e Najwan Darwish – este último, em tradução minha.

O endereço da revista é https://www.theodorazine.com/

 

31069138_10155646552194385_2942661686088982787_n
Arte de capa – Ramon Peralta

 

 

Resenha de Dobres sobre a luz, por Thiago Scarlata

O Thiago Scarlata, do Croqui Blog Literário, escreveu uma resenha generosa sobre o Dobres sobre a luz (2016). Além do texto crítico, o Thiago fez comigo uma espécie de mini-entrevista, buscando apreender o meu olhar sobre esse trabalho. Exercício interessante, análogo a um debruçar-se sobre si. Está lá, na sequência.

Agradeço a acolhida aos poemas e o tempo dedicado à escrita. E deixo um pedacinho do texto, convidando para que acessem o material completo no link:

“Em sete seções, o poeta maneja do clássico ao experimental. Como sugere o título, é como se Ponce de Moraes tivesse feito ‘dobres sobre a luz’ e visto bem além, convidando-nos a um salto corajoso para fora dos domínios conhecidos da expressividade.”

Link para a resenha: http://croquitts.blogspot.com.br/2018/04/dobres-sobre-luz-apogeu-e-queda-da.html

 

Inelutável modalidade do visível

Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensado através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por que em? Diáfano, adiáfano. Se se pode por os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.

Ineluctable modality of the visible: at least that if no more, thought through my eyes. Signatures of all things I am here to read, seaspawn and seawrack, the nearing tide, that rusty boot. Snotgreen, bluesilver, rust: coloured signs. Limits of the diaphane. But he adds: in bodies. Then he was aware of them bodies before of them coloured. How? By knocking his sconce against them, sure. Go easy. Bald he was and a millionaire, maestro di color che sanno. Limit of the diaphane in. Why in? Diaphane, adiaphane. If you can put your five fingers through it, it is a gate, if not a door. Shut your eyes and see.

 

[trecho de «Ulysses» de Joyce em tradução de Antônio Houaiss]

 

UlyssesCover

james-joyce

 

 

Parece que há tempo para poesia ainda

Como é de costume, meus trabalhos em poesia começam a sair sempre na sequência do meu aniversário (meados de novembro). Isso deve ter alguma coisa a ver com meu mapa, com alguma conjunção astral ou vibracional – deve ter alguma coisa a ver com nascer e estar no mundo.

Meu primeiro livro, «Imp.», foi lançado em dezembro de 2006; «De gestos lassos ou nenhuns», em dezembro de 2010; «Dobre sobre a luz», final de novembro do ano passado.

Esse ano de 2017 foi um ano ótimo para a escrita; particularmente, avancei em vários projetos diferentes – alguns poemas novos estão na plaquete que a Editora Quelônio lançou (quando: em dezembro/2017, claro!); uma outra sequência, «espacelamentos», em diálogo com Francesca Woodman, fica para o próximo ano; e, sim, last but not least, esse longo poema a que chamei «uma fotografia» – talvez pelo que de suspenso haja nele, talvez pelo que de atravessar o tempo, talvez pelo que de lançar a isca da lembrança, talvez pelo que porta de precário, talvez pela linguagem em que se escreve etc. etc. -, que acaba de sair pela Leonella ateliê, em parceria com a Adriana Zapparoli(editora-poeta) e o Felipe Stefani (desenhista-poeta).

São poucos exemplares, tiragem bem pequena, mas muito caprichada em papel couchê no miolo.

Agradeço a todos que, de alguma forma, estiveram próximos esse ano. É uma grande alegria compartilhar esses tempos nem sempre alegres na presença de vocês. Parece que há tempo para poesia ainda em 2017. Viva!

 

IMG_20171228_114032

Carlos Drummond de Andrade – Receita de Ano Novo

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

 

 

D2